Um raio ou relâmpago globular é um fenômeno atmosférico elétrico ainda inexplicado. O termo refere-se a relatos de objetos esféricos e luminosos, que variam em diâmetro do tamanho de uma ervilha a vários metros. É geralmente associado com trovoadas, mas dura muito mais tempo do que a fração de segundo de um relâmpago de raio. Muitos dos primeiros relatos dizem que a bola finalmente explode, por vezes com consequências fatais, deixando para trás o odor de enxofre.

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Até os anos 1960, a maioria dos cientistas argumentavam que raio globulares não eram um fenômeno real, apesar de inúmeras aparições em todo o mundo em em diferentes épocas. Experimentos de laboratório podem produzir efeitos que são visualmente semelhantes aos relatos de raio globulares, mas ainda não se sabe se tais fenômenos estão relacionados.

Dados científicos sobre os raios globulares naturais ainda são escassos, devido à sua raridade e imprevisibilidade. A presunção de sua existência baseia-se em avistamentos públicos relatados e, portanto, tem produzido resultados um pouco inconsistentes. Dada incoerências e falta de dados confiáveis, a verdadeira natureza do relâmpago globular ainda é desconhecida. O primeiro espectro óptico do que parece ter sido um evento de raio globular foi publicado em janeiro de 2014 e incluiu um vídeo. O registro foi feito em Lanzhou, na China.

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Existem inúmeros relatos de testemunhas oculares do fenômeno, desde muitos séculos. Segundo aqueles que já o viram, o relâmpago globular é um espetáculo apavorante:

A bola luminosa aparece de repente, avança para a pessoa emitindo um forte ruído, pode às vezes queima-la, danificar objetos, e não raro desaparece após violenta explosão.

Testemunhas e relatos na História 

Na Idade Média 

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Diana de Poitiers (amante de Henrique II, da França), por exemplo, teria sido queimada por uma chama que correu em volta de seu quarto, em sua noite de núpcias em 1557.

Em 1596, segundo um relato, algo alarmante aconteceu enquanto o Dr. Rogers pregava seu primeiro sermão na Catedral de Wells: “Em seu sermão, de acordo com um texto que escolhera, e não tendo feito oração, ele começou a discutir os espíritos e suas propriedades; momentos depois, pela janela oeste da igreja entrou uma coisa escura, do tamanho de uma bola de futebol, que seguiu pela parede do lado do púlpito; e, de repente, ela como que se partiu, mas com não menos estrondo e terror do que cem canhões houvessem sido disparados ao mesmo tempo; e com isto caiu uma tempestade extremamente violenta, com relâmpagos e trovões, como se a igreja estivesse cheia de fogo.”

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Muito impressionante, sem dúvida, mas a despeito de todas essas histórias os cientistas que posteriormente se ocuparam do fenômeno continuaram a encará-lo como um enigma: ninguém conseguia decidir-se sobre se o relâmpago globular existia ou não. É bem verdade que não houve nenhum problema antes que a “era científica” trouxesse novas descobertas sobre a natureza da eletricidade: as pessoas contentavam-se em admitir que o relâmpago em forma de bola, como o trovão ou a chuva torrencial, era apenas mais uma manifestação do universo imprevisível e não poucas vezes hostil.

Já no século XIX, porém, os que estudavam a eletricidade não conseguiam conciliar seus conhecimentos com a ideia de que algo como um relâmpago pudesse existir em forma de bola, completas em si mesma. Nos laboratórios de pesquisas, eram geralmente tratadas com desdém notícias como esta, de 1892:

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“… a família estava na casa, com as portas e janelas abertas, quando uma bola luminosa pareceu saltar do fio, passou pela porta aberta e uma janela, seguiu seu curso por algumas varas através do espaço aberto por trás da casa. Um menino que estava na sala agarrou o polegar gritando: “Estou ferido”, e o Sr. Hewett sentiu, durante algum tempo, uma sensação no braço esquerdo. Uma menina pegou seu xale e saíu correndo da casa para perseguir a bola. Disse que a persegiu durante certa distância, enquanto ela se afastava saltitando, até que pareceu dissipar-se no ar sem nenhuma explosão…“

Em tempos mais recentes muitos cientistas chegaram a admitir que, afinal de contas, os relâmpagos em forma de bola talvez existam. Isto se deve, de um lado, ao desenvolvimento dos conhecimentos de meteorologia e de física do plasma, permitindo criar um quadro dentro do qual se pode examinar e principiar a compreender o problema, e, de outro lado, ao fato de que não tem diminuído o número de relatos de testemunhas oculares.

Na Praia

Houve, por exemplo, uma extraordinária manifestação do fenômeno na pequena estação balneária escocesa de Crail, em agosto de 1966.

A Sra. Elizabeth Radcliffe voltava para casa, andando por um caminho de concreto perto da praia:

“Ergui os olhos e vi o que julguei ser uma espécie de luz e, quase no mesmo instante, ela se transformou numa bola, de tamanho mais ou menos entre uma bola de tênis e uma bola de futebol. Cruzou o caminho e mudou ligeiramente de cor, ficando como a do chão. Depois, passou sobre a grama e ficou esverdeada e, logo, com grande rapidez, desapareceu na direção do café, onde explodiu“

Dentro do café, encontrava-se a Sra. Evelyn Murdoch, que cozinhava na ocasião para os fregueses. Conta ela:

“O café estava cheio e tudo estava normal. De súbito, houve um tumulto medonho: sons horríveis de coisas estalando, aumentado o tempo todo. Olhei pela janela da cozinha e vi pessoas correndo da praia, gritando, berrando e o barulho ficou mais forte. Repentinamente, um estalo violento. Pareceu que abalava toda a casa e toda o cozinha se iluminou com uma luz ofuscante. Nunca vi uma coisa dessas em toda minha vida… Os fregueses correram para a rua e um homem com uma perna de pau, que ocupava geralmente uma mesa junto ao balcão, correu junto com o resto. Nunca vi gente fugindo com tanta rapidez em toda minha vida.“

Mais tarde, a Sra. Murdoch descobriu que a grossa coifa de ferro fundido que ficava em cima do grande fogão do café se partira de um lado a outro. A filha dela, Sra. Jean Meldrum, encontrava-se em visita ao café quando a bola de fogo caiu. Deixara seu bebê no carrinho do lado de fora e, logo que o estranho barulho aumentou, correu para ir buscá-lo. Este o momento em que viu a bola de fogo:

“Era de um alaranjado luminoso no centro e branco puro em toda a volta e rolou pela parede do café. Foi até a janela e quando me levantei para ver o que era aquilo, a coisa saiu pela janela, bateu no meu peito e simplesmente desapareceu.“

Passeando com os cães 

Num estacionamento próximo de trailers, a Sra. Kitty Cox saíra para passear com seus dois cães. Diz ela:

“De repente, houve aquele ensurdecedor estampido de trovão e, então, diretamente à nossa frente, ouvi gritos e vi crianças correndo e depois aquela bola sibilante apareceu diante de mim, arrastando o que parecia uma fita de cobre, de alguns centímetros. Meus cães entraram em pânico e eu fiquei olhando, enquanto ela passava com grande rapidez, sibilando e zumbindo, e se encaminhou para o mar.“

Dos EUA vem a extraordinária história de Clara Greenlee e seu marido, que viram uma bola de fogo vermelho-alaranjada atravessar a parede do quintal concretado de sua casa em Crystal River, Flórida. Do tamanho de uma bola de basquetebol, ela rolou pelo chão; a Sra. Greenlee bateu nela com o mata-mosca, que por acaso tinha na mão. A bola explodiu com o som de tiro de espingarda. “isso deve ter matado a mosca”, disse a Sra. Riggs, vizinha de Clara Greenlee.

No Camerum, África, em 1960, a Sra Joyce Casey dirigia-se para a cozinha, certa noite, quando “uma coisa parecida com um farol de carro” correu pelo corredor em sua direção. Aproximou-se dela, virou, entrou no banheiro e desapareceu pelo vaso.

No Voo 

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Um dos mais detalhados registros feitos por um cientista é o do Professor R. C. Jennison, dos Laboratórios de Eletrônica da Universidade de Kent, que presenciou um aparecimento em circunstâncias inusitadas e alarmantes. Foi em março de 1963. Conforme escreveu ele na revista Nature, encontrava-se a bordo de um avião da Eastern Airlines, num voo entre Nova York e Washington, sentado em uma das poltronas da frente, quando a aeronave se viu colhida por uma violenta tempestade elétrica.

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O avião foi envolvido por uma súbita, ofuscante e aterradora descarga elétrica” e, alguns segundos depois, uma esfera incandescente, de uns vinte centímetros de diâmetro, emergiu da cabine do piloto e veio descendo pelo corredor, aproximadamente a meio metro de minha poltrona, mantendo a mesma altura e o mesmo curso dentro do campo de observação”. Um aspecto desse aparecimento lança dúvida sobre uma teoria largamente aceita, a de que o relâmpago globular seria apenas uma ilusão de óptica, uma “imagem residual” ou persistente deixada na retina pelo relâmpago comum. Isso porque o Professor Jennison informou também que a bola foi vista por outra pessoa além dele, uma “apavorada aeromoça que estava sentada, com o cinto apertado, no lado oposto e mais para a parte traseira do avião. Ela viu a esfera continuar pelo corredor, até desaparecer finalmente na direção do toalete.”

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A Fora do Relâmpago 

 *ocorre após um relâmpago comum;
*a bola tem, em média, 15 cm de raio;
*apresenta em geral uma coloração de amarelo para vermelho;
* não é excessivamente quente e costuma produzir um som sibilante.

Possíveis explicações 

Muitas hipóteses científicas sobre os relâmpagos globulares foram propostas ao longo dos séculos. Em 2007, o pesquisador Gerson Paiva conduziu e publicou uma pesquisa experimental pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife, Brasil, feita com base em dados espectrográficos que foram registrados por acaso, onde propunha a hipótese do silício vaporizado. Esta hipótese sugere que o raio globular consiste de silício vaporizado que queima através do processo de oxidação. O relâmpago que golpeia o solo da Terra pode vaporizar a sílica contida no seu interior e, de alguma forma, separa o oxigênio do dióxido de silício, transformando-a em vapor de silício puro. Enquanto esfria, o silício pode condensar em um tipo de aerossol flutuante, brilhante devido ao calor do silício recombinado com o oxigênio. O registros do experimento relatam a produção de “bolas luminosas com uma duração da vários segundos” através da evaporação de silício puro com um arco eléctrico. Vídeos e espectrografias desta experiência foram disponibilizadas. Esta hipótese ganhou apoio significativo em 2014, quando o primeiro registro de espectros de raio globures naturais foram publicados. Os teóricos depósitos de silício no solo incluem as nanopartículas de Si, SiO e SiC.

Tem sido sugerido que um raio globular é baseado em oscilações não lineares esfericamente simétricas de partículas carregadas no plasma – o análogo de um solitão de Langmuir espacial. Essas oscilações foram descritas tanto por teorias clássicas como teorias quânticas. Verificou-se que as oscilações de plasma mais intensas ocorrem nas regiões centrais de um raio globular. Sugeriu-se que estados ligados de partículas carregadas oscilantes com spins orientados opostamentes – o análogo de pares de Cooper – podem aparecer dentro de um raio globular. fenómeno, por sua vez, pode levar a idéia de um estado supercondutor da matéria dentro de um raio globular. A idéia da supercondutividade em um raio globular foi considerada anteriormente. A possibilidade de existência de um raio globular com um núcleo composto também foi discutido neste modelo.

Não há como falar sobre relâmpago globular inteiramente sem pelo menos mencionar as alegorias e repercussões sociais advindas do imaginário popular a respeito desse fenômeno. Nesse aspecto, o conceito de Objeto voador não identificado torna o relâmpago globular um candidato perfeito, já que se trata de um fenômeno raro, pouco documentado, e cuja ocorrência, somada a crenças muitas vezes pseudocientíficas, leva as pessoas comuns a especular sobre a possibilidade do relâmpago globular constituir elemento de uma realidade fantástica.